Disponível no Portal de Livros Abertos da USP, livro traz comentários sobre obras clássicas do Japão
Recém-lançado no Portal Livros Abertos da Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (Aguia) da USP, o e-book Cartas e Impressões de Leitura – Literatura Japonesa I apresenta um panorama da literatura japonesa, com o objetivo de proporcionar uma viagem no tempo, segundo a organizadora da obra, a professora Lica Hashimoto, do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Um convite para conhecer obras milenares escritas em outro tempo, outro espaço, outra cultura”, comenta. Segundo ela, o livro reúne indicações de obras que possuem o tom da escrita criativa e compartilham uma leitura valiosa. E, embora os contos se repitam, cada um deles “compartilha significados e sentidos captados pela sensibilidade e a experiência de quem escreve”.
Uma das obras comentadas no livro é Dez Noites de Sonho, obra de 1908 escrita por Natsume Sôseki. Aline Kobori, por exemplo, escreve: “O narrador conta dez de seus sonhos; enquanto passávamos pelas diferentes situações, uma me chamou mais a atenção. A quarta noite – prometo só contar este sonho! – retrata um idoso que fazia uma refeição com sakê e nishime e, após dizer que transformaria os lenços em cobra, some no rio enquanto dançava e fazia suas ‘mágicas’”.
A sétima noite de Dez Noites de Sonho ganha especial atenção de Bianca Aya Muto: “Ao ler a narrativa, com certeza senti parte de mim em meio às ondas e isso me incomodou. O incômodo foi bom, pois estava em um momento em que parar e me questionar sobre a vida era muito necessário. O sonho da sétima noite se inicia em um navio desconhecido navegando em ondas também desconhecidas. Apesar de sentir a agonia gerada pela incerteza e barulhos, enquanto lia o primeiro parágrafo tive a impressão de que seria um sonho mais tranquilo, porém vi que estava errada no momento em que li essa passagem: ‘O sol indo para o oeste, seu limite é o oeste? […] Vidas sobre as ondas… Recostadas no leme… Escorrendo… Escorrendo…’ (p. 104). Senti uma espécie de náusea e por certo não fora provocada pelo balanço representado por palavras, e sim por perceber que estava lendo sobre a vida”.
Há também narrativas sobre O Livro do Travesseiro, de Sei Shōnagon, em que Amanda Stephanie Pereira tem uma conversa com seu espelho sobre “Makura no sôshi”, um “livro de cabeceira” feito por uma mulher da alta sociedade japonesa do século 16. “Ela fazia espécies de ensaios e diários na qual escrevia ‘ao correr da pena’ e simplesmente enchia páginas e páginas com seus pensamentos, que perduraram séculos e chegaram até nós”. Experiência que a levou a criar o seu próprio livro de cabeceira. Ou O Conto do Cortador de Bambu, em que Brenda Ribeiro Argolo também escreve uma carta: “Confesso que fiquei preocupada, os textos de literatura costumam ser de difícil leitura, mas com esse foi diferente. Para textos como aquele, o que você precisa é ler com emoção; e emoção era tudo o que eu mais tinha guardado dentro de mim. Sempre me emocionei com o filme da Princesa Kaguya, mas ler a obra original me fez confirmar que toda aquela história tocava minha alma (…) me comove quando a história absorve-se nos sentimentos da princesa, inclusive, é quando o conto adquire sua essência – e, dessa forma, compactua com as minhas aflições e estimas”.
Sobre Relatos de um Gato Viajante, de Hiro Arikawa, Tatiana Valéria Silva acatou a recomendação dos amigos, não só pela história mas pelas pessoas que ela lembrou enquanto lia a obra: “Faz mais de um ano que não os vejo e, ao ler o livro que eles tanto recomendaram, senti que a saudade aumentou, mas, enquanto ria e, muitas vezes chorava, como eles devem ter rido, e como devem ter chorado, eu senti a distância entre nós diminuir, mesmo que por pouco tempo”. Segundo Tatiana, cada capítulo é um relato diferente sobre as pessoas que marcaram a vida de Satoru (o personagem que adota um gato) e como ele as marcou também. “A obra fala sobre luto e despedidas, o que justifica as lágrimas, mas também nos mostra o que pode vir depois da dor (…) é a chance de observar pessoas normais, lidando com suas vidas cotidianas apesar de toda dor e lidando com ela da melhor maneira que podem.”
O e-book Cartas e Impressões de Leitura – Literatura Japonesa I (318 páginas), organizado pela professora da USP Lica Hashimoto, pode ser baixado no Portal de Livros Abertos da USP.
Fonte: Jornal da USP